terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Série Músicas Dentro de Mim: Eu não Gosto de Bom Gosto

"O que eu não gosto é do bom gosto, eu NÃO GOSTO DE BOM SENSO...
Eu gosto dos que tem FOME, dos que MORREM DE DESEJO, dos que SECAM DE DESEJO, dos que ARDEM..."
E entre as coisas que eu detesto, eu detesto a suposta "monogamia" do casamento. Só há uma única e verdadeira fidelidade: Ao que somos! E se somos, ao deixar de ser "pelo outro", traimos a nós mesmo. O que é a monogamia? Nos comprometer a fazer sexo única e exclusivamente com uma pessoa para sempre? Independente do nosso desejo? Pois eu desejo muito, todos, todas, tudo!

Série Músicas Dentro de Mim: Bicho de Sete Cabeças




Não dá péNão tem pé, nem cabeça
Não tem ninguém que mereça
Não tem coração que esqueça
Não tem jeito mesmo
Não tem dó no peito
Não tem nem talvez ter feito
O que você me fez desapareça
Cresça e desapareça...
Não tem dó no peito

Não tem jeito
Não tem ninguém que mereça
Não tem coração que esqueça
Não tem pé, não tem cabeça
Não dá pé, não é direito
Não foi nada
Eu não fiz nada disso
E você fez
Um Bicho de Sete Cabeças...
Não dá pé

Não tem pé, nem cabeça
Não tem ninguém que mereça (Não tem ninguém que mereça)
Não tem coração que esqueça (Não tem pé, não tem cabeça)
Não tem jeito mesmoNão tem dó no peito (Não dá pé, não é direito)
Não tem nem talvez ter feito (Não foi nada, eu não fiz nada disso)
O que você me fez desapareça (E você fez um)
Cresça e desapareça... (Bicho de Sete Cabeças)
Bicho de Sete Cabeças!

Bicho de Sete Cabeças!
Bicho de Sete Cabeças!

E essa vontade, esse bicho de sete (mil) cabeças dentro de mim... A vontade de desestir, de ir, de arrancar, essa dor do peito, à faca e sangrar, e doer e morrer, junto com o bicho...

sábado, 10 de outubro de 2009

Sei das besteiras que faço.

"Sei das besteiras que faço, das besteiras que falo, de onde vêm os hematomas. Dos medos e dos fracassos. Sei o que penso na insônia ou quando dou uma esmola. Quando digo minha glória e penso nos vestidos. Sei das noites bebidas, nos copos sujos e conheço cada pedaço da rua. Conheço um pouco de tudo e sei que digo mentira quando digo “Sei de tudo”. Falo demais sobre mim e quando vejo já disse algumas verdades .." (Fernanda Young)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Série: Músicas dentro de mim

"Avassaladora, senta no seu colo, lambe o pescoço, morde a orelha, enfia a língüa por entre seus dentes, tomando toda a sua boca. Ela é louca muito louca e ele adora sua mão apertando o que deseja com calor e com carinho, ensinando o caminho da loucura e acabando com seu medo de não poder. E o macho se solta, se larga, se acaba na mão da rainha com todo prazer... E o macho desmonta num grito de gozo na mão da rainha e desmaia de tanto prazer"

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

As besteiras de menina...


"Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar. Por que ela vai ser o que quis inventando um lugar, onde a gente e a natureza feliz, vivam sempre em comunhão e a trigresa possa mais do que o leão" (Caetano)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Já passei do começo...

"Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa. Eu que rejeito e exprobro o que não for natural como sangue e veias descubro que estou chorando todo dia". (Adélia Prado)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Só um retrato ... Mas como dói.

Vigário Geral, eu e mamãe.

sábado, 23 de maio de 2009

Essa palavra presa na garganta

Cálice

Composição: Chico Buarque e Gilberto Gil

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue!
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta ?
Mesmo calada a boca resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta.
De que me vale ser filho da santa ?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta.
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado.
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa...
De muito gorda a porca já não anda (Cálice!)
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil Pai, abrir a porta(Cálice!)
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade ?
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade...
Talvez o mundo não seja pequeno(Cálice!)
Nem seja a vida um fato consumado(Cálice!)
Quero inventar o meu próprio pecado(Cálice!)
Quero morrer do meu próprio veneno(Pai! Cálice!)
Quero perder de vez tua cabeça(Cálice!)
Minha cabeça perder teu juízo(Cálice!)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel(Cálice!)
Me embriagar até que alguém me esqueça(Cálice!)
Eu hoje só queria uma coisa, uma única coisa: Não existir e poder perceber que não seria preciso muito para ser esquecida.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Vem cá não tenha medo ...

"Só não se perca ao entrar no meu infinito particular!"

"Infinito Particular
(Marisa Monte em composição de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown)
Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular"

domingo, 29 de março de 2009

Por que Joana ?

“Ó Joana sem sepulcro e sem retrato,
tu que sabias que o túmulo dos heróis é o coração dos vivos”.
(André Malraux)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Para onde ir quando não se quer estar em lugar algum ?

Meu aniversário. Quase ninguém sabe disso. Não vejo vantagem alguma em fazer aniversário. Um ano mais próximo da morte, destino inexorável de nós todos.
E hoje invejo o destino dos mortos.
Sozinha, em outra cidade, trabalhando, sem ninguém, absolutamente ninguém ao meu lado.
Não queria bolo, não queria festa, não queria absolutamente nada além do abraço de minha mãe, do meu pai. Queria colo. Estou cansada de ter que ser tão forte, de ter que ser tão durona, de ter que ser tanta coisa.
Queria apenas poder errar sem culpa, queria poder sentar e olhar o mar sem ter que olhar também o relógio. Queria ir para algum lugar que eu nem sei onde fica.
Hoje, estou tão triste, de uma tristeza tão vazia, que seca a boca, que trava o peito.
Hoje a única vontade era encontrar uma bala perdida, encontrá-la bem no meio do peito. Mas como diz o poeta, não adianta morrer. A vida é uma ordem e eu me acostumei a seguir ordens. Justamente eu que sempre tive um espírito tão livre e inquieto.
"Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas dos teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue,e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação".
Carlos Drummond de Andrade

domingo, 8 de março de 2009

Hoje eu tô chutando o pau da barraca...

Sabe aqueles dias em que você acorda e decide ser o "cão chupando manga" ? Pois é, esse dia é hoje !


"This is a dog sucking 'manga' (manga is a tropical fruit)"

Você nunca acordou com uma vontade enorme de chutar o balde? Não? Nunca acordou querendo transgredir? Uma puta vontade de falar palavrão? Nunca acordou querendo mandar geral se danar ? Nunca teve vontade de fazer careta para as criancinhas da praça? Nunca desejou ser politicamente incorreto? Nunca desejou colocar lenha na fogueira? Nunca quis ligar um foda-se e seguir em frente “defecando e deambulando” ? Nunca quis passar a mão na bunda do guarda, sobretudo se o guarda for gostosão ?
Então hoje, hoje é exatamente este dia: O dia de chutar o balde. O dia de fazer o que der na telha. O dia de chamar urubu de meu louro. O dia de enfiar o pé na jaca. O dia de mijar fora do penico.
Para os que acreditam em astrologia. EU SOU ARIANA! Ascendente em Touro e Lua em Aquário. EU NÃO SOU CAPRICORNIANA! E vocês sabem a fama que os Arianos tem. Logo eu tenho que fazer jus a minha fama de má.
Todos os dias eu acordo e vou trabalhar. Trabalho até no final de semana. E no trabalho tenho que manter uma aparência que inspire total seriedade e confiança. Estar sempre bem arrumada, limpinha, bonitinha. Tenho que tomar cuidado com a aparência, com as palavras, com a imagem. Afinal, “a mulher de César não precisa ser honesta. Tem que parecer honesta”. Que vontade de trabalhar de bermuda, de camiseta branca, de havaianas. Que vontade de bocejar e de ouvir música no meio do trabalho. Esse modelão: trabalhar, trabalhar, ganhar dinheiro, pagar as contas, comprar, comprar, pagar cartão de crédito, ter apartamento com piscina, sauna e dois elevadores, granito no chão, jardins e um segurança enorme, de terno azul marinho e óculos escuro. Tem que ter computador. Desk top, lap top, palm top e top top. Puta que pariu, é muita chatice. Graduação, pós-graduação, MBA, TCC com normas da ABNT. Planilha disso, planilha daquilo. Access, Excel e Outlook. A vida em números. A vida em planilhas, gráficos e tabelas. A vida atrás da tela do computador e à frente da tela da televisão. A vida quadradinha, a vida que não desce redondo. A vida que não te dá asas.
Enfim “Eu vou tomar um porre de felicidade” porque “é hoje o dia da alegria e a tristeza nem pode pensar em chegar”. Estou tão cansada de ser certinha. Me segura ! aliás, não me segura! Eu hoje vou errar o caminho de casa. Vou fazer o que quiser e depois ter amnésia alcoólica. Nada de ressaca moral. Ressaca moral é para quem faz pouca merda. Mas hoje, eu vou me superar ...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Bons companheiros para uma mulher em seu dia...



"De madrugada essa mulher faz tanto estrago. Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar. Ah, como essa louca se esquece, quanto os homens enlouquece nessa boca, nesse chão. Depois parece que acha graça e agradece ao destino aquilo tudo que a faz tão infeliz. Essa menina, essa mulher, essa senhora em que esbarro toda hora. No espelho casual é feita de sombra e tanta luz, de tanta lama e tanta cruz que acha tudo natural" (Elis em Essa Mulher).

"Que uma mulher pode nunca nada, Isto eu já sei
É o grito da Dona moral Todo dia no ouvido da gente
É que eu estou pela vida na luta Eu também sei
E meu caminho eu faço Nem quero saber que me digam dessa lei
É que sinto exatamente Aquilo que sente qualquer um que respira
Uma perna de calça Não dá mais direito a ninguém
De transar o que seja viver
E por isso eu prossigo e quero
E grito no ouvido dessa tal de dona moral
Que uma mulher pode nunca é deixar
De ser, de fazer e acontecer"
(Gonzaguinha)

"Sou bem mulher de pegar macho pelo pé. Reencarnação da Princesa do Daomé. Eu sou marfim, lá das Minas do Salomão. Me esparramo em mim, lua cheia sobre o carvão. Um mulherão, balangadãs, cerâmica e sisal. Língua assim, a conta certa entre a baunilha e o sal. Fogão de lenha, garrafa de areia colorida. Pedra-sabão, peneira e água boa de moringa. Sou de arrancar couro..." (João Bosco)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Álbum de Família

"We cannot become what we need to be by remaining what we are." Max De Pree


Papai

Vovó Maria e Eu aos 3 anos e meio

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Pensando em você ...

"Thinking of you"







"Para que tú entres,
a veces de tristeza, el corazón se me abre.
Como una puerta tímida,
para que tú entres, el corazón se me abre.
Pero tú no vienes,
no vuelas más sobre los campos.
En vano mi corazón
a la ventana de su dolor se asoma.
Pasas de largo,
como si el viento
soplase sólo para allá.
Pasa la mañana y no viene la tarde.
Y el corazón se me cierra,
como una mano sin nadie, el corazón se me cierra
".
Manuel Scorza

Mamãe é carioca !


"As jovens viúvas marcadas (...) não fazem cenas, vestem-se de negro, se encolhem, se conformam e se recolhem às suas novenas, serenas."

E depois de ficarmos quase um ano na casa de minha avó baiana, minha mãe não aguentou mais. Tudo tão diferente do que ela estava acostumada, mamãe, uma típica carioca. E outra agravante, mamãe nasceu determinada a ser feliz. Definitivamente, aos 20 anos de idade, ela não iria se comportar como uma viuva ateniense, sobretudo sabendo que o marido morreu atropelado quando ia para a casa da amante. Ah, eles não conheciam minha mãe ! Alguns de meus tios, sobretudo o hipócrita do tio Nando, recriminavam o fato dela insistir em viver com a alegria que lhe é característica, de sair, dançar, ir pular carnaval. E mamãe é osso duro de roer. Até posso imaginá-la dizendo ao meu tio: "olha meu filho, quem morreu foi o seu irmão, não fui eu não. Eu estou bem viva, tá vendo?!". Assim, somando a superlotação insalubre da casa, os hábitos cotidianos bastante diferentes, e o patrulhamento hipócrita do meu tio Nando, um cara de caráter no mínimo duvidoso, mamãe não aguentou. Assim que saiu, finalmente, a pensão de meu pai, ela juntou nossas poucas coisas e voltamos para o Rio. Eu tinha pouco mais de três anos.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A verdade da Tropa - O livro e Novo Blog.

"Incursionado no Inferno - A Verdade da Tropa".
Após ler "A elite da Tropa" fiquei com a sensação de que faltava algo a ser dito, restava uma superficialidade não resolvida. Foi então que li "A Verdade da Tropa" (como gosto de chama-lo) pela primeira vez e depois por algumas outras vezes, e sempre descubro um aspecto novo nele, como se o autor tivesse colocado "entrelinhas" perspicazes, que devem ser descobertas com a sagacidade de quem incursiona por ruelas escuras. Não é um livro para violentos ou insensíveis. Muito pelo contrário, é um livro para se lido por pessoas que ainda se emocionam com heróis. Não heróis de um filme "blockbuster", mas heróis cotidianos que muitas vezes nem lhes agradecemos o empenho e a dedicação com a qual se lançam para que por mais difícil a tarefa, ela seja realizada, mesmo que alguns deem a vida para tanto.
O tema não poderia ser mais atual. No entanto, alguns pensam que o livro fala apenas de segurança pública, de táticas de combate ao crime, de operações militares. Não é verdade, nele podemos ler sobre valores raros de ombridade, companheirismo, dignidade, amor ao trabalho, dedicação, solidariedade, cidadania, entre outros que fui listando e escrevendo ao lado de cada trecho onde os identifico.
Desde ontem o Cel. Mário Sérgio colocou no ar o Blog Incursionando no Inferno a Verdade da Tropa. que trata sobre o livro. A iniciativa é excelente, abre-se espaço para que esses diversos aspectos encontrados possam ser debatidos. Então, É SÓ CLICAR NA FRASE ABAIXO DA IMAGEM QUE REPRESENTA A CAPARA DO LIVRO, COMPRÁ-LO e assim como eu, encontrar com valores raros que precisam ser defendidos.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ele - Parte I

Talvez eu possa dizer que a minha vida teve uma mudança em seu rumo quando encontrei o Zé Edu. Foi em 1998. Antes eu era apenas uma menina, e depois dele certamente eu consegui me ver como uma mulher. Ele tão rapidamente me mostrou coisas que eu desconhecia de mim, me estimulou a ter liberdade, auto-estima.
Eu o encontrei por acaso, numa lista de debates sobre o relativismo, começamos a conversar, trocar e-mails, e logo estávamos nos falando ao telefone. No início foi difícil acreditar que ele era físico, com PhD em Yale, na net rola cada lorota, mas depois de nos falarmos e eu encontrar o curriculo lattes e várias referências bibliográficas dele, não tive mais dúvidas, o cara era uma sumidade, um dos maiores especialistas em sua área de pesquisa. Então, claro, bateu a insegurança. O que um cara com mais de 20 anos mais velho, que já viajou praticamente o mundo todo, falando vários idiomas fluentemente, que poderia ter as mulheres mais bonitas e interessantes quando quisesse, iria querer com uma estudante universitária, preocupadas com prosaicas provas e estágios, sem charme, sem graça ? O quê? Era impossível não olhar para ele como quem olha para um astro de Hollywood, sei lá, alguém totalmente impossível.
Mas o impossível aconteceu. Nos encontramos e tudo foi inesquecível. Cada segundo. Nunca pensei que pudesse pegar um carro e dirigir 10 horas seguidas, sozinha pela estrada. Foi uma das minhas primeiras descobertas, eu poderia dirigir sozinha Brasil a fora. Praticamente não parei durante a viagem, mapa na mão, o coração aos pulos dentro do peito e o pé pisando lá embaixo no acelerador. Quando eu cheguei ele estava num posto de gasolina na entrada da cidade. Desci do carro, não sei como pois minhas pernas tremiam muito. Ele me deu um dos sorrisos mais lindos que eu já vi, veio e me beijou na boca, simples assim. Fomos para sua casa, quer dizer, super casa, com um jardim enorme, e piscina, ele me apresentou a cada cantinho. O Zé era divorciado da esposa, e sua filha, da mesma idade que eu, morava com ele. Nos encontramos e ela me tratou super bem, estava saindo para viajar.
Não havia nada a ser dito. Não havia palavras que coubessem naquele encontro. Só nos olhamos, olhamos, sorrimos, sorrimos. Conversamos sem rumo até anoitecer. Fomos jantar, ele me mostrou um pouco da cidade e me deixou dirigir seu carro. Eu perguntei se podia correr com o carro dele, e ele respondeu que sim... nunca corri tanto, subia e descia ladeiras que eu não sabia onde iam dar, em alta velocidade. Ele apenas ria muito e dizia que não sabia quem era mais louca, eu ou ele. Jantamos num lugar lindo e ele me falava das figurinhas do mundo acadêmico, de gente que eu só ouvira falar nas revistas científicas, falava do John Maddox (editor da Nature) como se o cara fosse "íntimo", me falava de políticos e figuras que eu só conhecia dos jornais e de como eles eram. Me contou de suas viagens, tinha acabado de chegar da África do Sul onde tinha voado de balão. Até eu falei que me sentia tão pequenininha perto dele. E o que recebi foi uma descrição linda sobre mim mesma. Eu nunca tinha visto em mim as coisas que ele enumerou. Ele narrou fatos da minha vida e como ele os observava e o que queriam dizer e era como se eu olhasse a minha vida de uma outra forma. Depois dele contar a minha vida para mim, passei a ter orgulho "da minha história". Ele me disse que eu deveria ter orgulho da minha história pessoal e nunca mais esqueci isso.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, Brasil.

"Pensei que era liberdade, mas era só solidão!"
("I thought it was free but was only loneliness")

E por falar em Liberdade: Edith Stein.

EDITH STEIN: A LIBERDADE NO MAIS PROFUNDO DO HOMEM.
("freedom in the most intimate of human beings")
(Texto de Elisângela Maria de Jesus e meus grifos)

A conversão de Edith Stein ao catolicismo não supõe renúncia à fenomenologia, quando em 1936, redige sua obra filosófica: Ser finito e Ser eterno, da cela de carmelita, recorda que sua pátria filosófica é a escola de Husserl.
Na busca constante de Edith em compreender o homem, situa em todas as suas obras o homem como ser livre. Na visão steiniana razão e liberdade são constitutivos da pessoa, assim a razão deverá agregar-se à liberdade. O homem nasce para ser livre, porém seguramente o que mais opõe resistência a liberdade, é a própria natureza humana tão complexa. Edith Stein afirma que a pessoa é livre diante de tudo, pois determina sua vida diante de si mesmo. Reconhecendo aqui sua afirmação, o principal determinante para ser livre é o defrontar com seu próprio interior, pois é no mais profundo que está a liberdade para ser. É do lugar mais inconstante, o eu, que o homem está mais próximo de se encontrar e tomar decisões que determinam a evolução do ser, onde as limitações e circunstâncias perdem o poder.
A liberdade para Edith Stein está no plano do auto-domínio e para essa liberdade acontecer o homem deve estar no seu “lugar”. Este lugar não supõe uma subjetividade infrutífera, mas situa-se no constante “devir” da existência humana. Em um momento de sua vida, exclama Edith: “Eis a verdade”, ao ler a autobiografia de Santa Teresa de Ávila, entre um fim de tarde e o raiar do dia seguinte e após, pediu o batismo na Igreja Católica, deixando após anos de inquietação o judaísmo, religião em que fora introduzida quando criança. Em 1933 entra para o Carmelo de Colônia onde viveu uma vida simples de carmelita, com todas as abnegações pertinentes à clausura. Mais tarde é transferida para Echt, na Holanda onde em 1942, a Gestapo invade o carmelo e leva Edith para Auschwitz, aqui revela a liberdade para Edith, quando em silêncio caminha para o holocausto, nenhuma expressão é proferida: resta o silêncio. Morre aos 09 de agosto, numa câmara de gás. Seu caminho constitui-se de escolhas que contribuem para uma apreciação sobre a liberdade do homem que pode ser compartilhada de forma simples e dramática ao mesmo tempo.
Em Edith Stein, não achamos respostas para o homem conseguir a liberdade, uma vez que estar livre é consentir estar. Não deriva do pensamento Steiniano a verdade plena do homem, mas a percepção do caminho, das escolhas, das decisões que são tomadas a partir do próprio homem diante de si mesmo. A resignação, o silêncio, pode ser ou não liberdade. A angústia da morte, neste caso o holocausto, permite ao silêncio, uma série de interpretações subjetivas a partir do nosso próprio conceito de liberdade.
E este conceito, nasce e morre a cada instante, pois somos senhores e escravos dos nossos atos, determinamos a vida diante de nós mesmos. Não cabe aqui concluir nada, pois o homem com toda sua limitação, não se opõe a gozar de liberdade, uma vez que esta é constitutiva de seu ser e legitimada pelo livre arbítrio.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Porque mudei a foto de abertura do blog ?

"Rua,Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua, como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas"
(Tom Jobim)
Quis mudar. Na foto antiga eu estava viajando sozinha por uma estrada desertíssima no interior de Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha, era madrugada, o céu tinha tanta estrela que parecia que uma delas ia cair sobre mim. Então encontrei uma ponte e ao lado desta uma árvore. Tive vontade de parar o carro e tirar uma foto, com a iluminação apenas dos faróis do veículo. E foi o que eu fiz. E me perguntei: o que estou fazendo, absolutamente sozinha, às três da madrugada, numa estrada deserta do Vale do Jequitinhonha ? A sensação de estar completamente livre tomou conta de mim. Não tinha ninguém na estrada, nem uma casinha ao longe. Eu podia fazer o que quisesse ali, até me matar e o mundo não se daria conta. Foi por isso que inicialmente coloque essa foto no blog. Pela sensação de liberdade que ela me remetia. Eu adoro viajar saboreando a solidão e os perigos das estradas, sobretudo no silêncio da noite.
Mas observando melhor, tinha algo de doloroso, de abandono, de triste naquela foto.
Já a foto atual foi feita quando eu estava muito bem acompanhada numa praia deserta no interior da Bahia. Um mar enorme, de ondas tranquilas, areia branquinha e muito sol. Não pensei duas vezes em cair n'água, completamente nua. Ela conserva a sensação de liberdade, porém com mais calma, alegria, menos dor e solidão que a anterior.

Minha vida na Bahia - Parte I.

Algum tempo após a morte de meu pai e minha avó, a vida aqui no Rio se tornou praticamente impossível. Era 1974 e a pensão do meu pai iria demorar pelos prognósticos mais otimistas, pelo menos um ano, para ser liberada. Minha mãe não tinha com quem me deixar para ela poder trabalhar. As contas se acumulavam. O aluguel atrasado. Os armários de mantimentos vazios. Ainda bem que mamãe não tinha geladeira. Nem dinheiro para comprar passagens para a casa da mãe de meu pai, na Bahia, nós tínhamos. Nós é modo de falar, com apenas dois anos de idade, eu certamente estava alheia a todos esses problemas. Não me lembro de nada, a não ser das paredes de nossa casa, do nosso sofá, do meu urso laranja e algumas poucas coisas. Meu tio Adenil, irmão do meu pai veio de Ilhéus para nos buscar. Mamãe conta que ele era gente boa, tranquilão e hippie, usava calça jeans de boca sino, cabelo sem pentear e uma corrente no pescoço. E lá fomos nós em busca de nem sei o quê, retirantes ao contrário, saíndo do sudeste rumo à Bahia. Mamãe vendeu praticamente tudo o que havia na casa. Só levava roupas e a televisão comprada à prestação por meu pai.
Não consigo, é impossível pensar nisso sem sentir a solidão infinita de minha mãe. Sem vê-la olhando para os lados, sem mãe, sem marido, sem emprego, sem chão. Se fechar os olhos consigo imaginá-la à noite, chorando, o coração apertado.
Na Bahia fomos morar na casa de minha avó. Lá moravam muitas outras pessoas. Meus tios e tias, e alguns primos. Era uma casa grande, muito simples e cheia de gente. Conheci minha bisavó. Uma senhora já bastante idosa, sempre deitadinha em sua cama onde nós lhe pediamos bênção. Conheci tantos outros tios e primos, pois a familia de meu pai é enorme. Conheci uma tia de papai que chamamos Litinha, ou simplesmente "mãe-tia" por ter cuidado de seus sobrinhos com se fosse mãe destes. Lembro vagamente de sua casa. Ficava à beira de um rio chamado "Rio Cachoeira" e atravessava a cidade de Itabuna. Tenho algumas fotos que tirei na margem desse Rio. Mamãe fala que minha prima Lana fazia xixi no chão e o xixi ficava por lá, até secar naturalmente. Certamente isso deve ter aterrorizado minha mãe que tem uma noção de cuidado com a casa muito forte.
Tenho poucas lembranças desse período. Ficamos por lá aproximadamente um ano. Mamãe não se acostumou a casa de minha avó baiana, uma casa cheia, confusa, sem espaço para nós, tão diferente da casa de minha avó italiana, sua mãe e sua maior referência, assim como ela é a minha.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Antíteses - Parte II

"Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido."
(Gregório de Mattos Guerra)
Durante tanto tempo misturei meu medo extremo com uma audácia quase kamikase. Me lançando primeiro às feras, para depois ver as feridas que restavam em meu corpo. Passei a vida andando entre extremos. Tentando equilibrar as diversas faces de uma só pessoa. Tentaram me dizer que eram contradições quando na verdade eram antíteses. E foi com o estudo do Barroco que entendi que a antítese é formada por partes indissolúveis entre si. Uma coisa e seu contrário, unidas para formar por contradição um significado íntegro. Assim sou eu...
HINO À ÍSIS
(Séc. III/IV)

Porque eu sou a primeira e a última
Eu sou a venerada e a desprezada
Eu sou a prostituta e a santa
Eu sou a esposa e a virgem
Eu sou a mãe e a filha
Eu sou os braços de minha mãe
Eu sou a estéril, e numerosos são meus filhos
Eu sou a bem-casada e a solteira
Eu sou a que dá a luz e a que jamais procriou
Eu sou a esposa e o esposo
E foi meu homem quem me gerou em seu ventre
Eu sou a mãe do meu pai
Sou a irmã de meu marido
E ele é o meu filho rejeitado
Respeitem-me sempre
Porque eu sou a escandalosa e a discreta.

Antíteses - Parte I

A REVOLTA DOS DÂNDIS

(Engenheiros do Hawaii)

Entre um rosto e um retrato, o real e o abstrato
Entre a loucura e a lucidez,
Entre o uniforme e a nudez
Entre o fim do mundo e o fim do mês
Entre a verdade e o rock inglês
Entre os outros e vocês

Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão

Entre gritos e gemidos, entre mortos e feridos
(a mentira e a verdade, a solidão e a cidade)
Entre um copo e outro da mesma bebida
Entre tantos corpos com a mesma ferida

Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão

Entre americanos e soviéticos, gregos e troianos
Entra ano e sai ano, sempre os mesmos planos
Entre a minha boca e a tua, há tanto tempo, há tantos planos
Mas eu nunca sei pra onde vamos

Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A força que nasce com a dor ...

Fonte: Google imagem
Eu era tão pequenina e tudo o que eu mais queria era ter acalentado minha mãe. E eu ali num berço apenas chorando e exigindo leite e atenção. Os laços entre minha mãe e minha avó eram fortes demais. Certamente ela sofreu com a perda do meu pai. Mas nada até hoje se compara com a falta que lhe faz minha avó Maria. A dimensão da dor de minha mãe é a mesma de sua força. Até hoje deito em seu colo e digo que gostaria de ser tão forte quanto ela, eu que me sinto tão fraca. Ela me diz que não nasceu forte, que a força nasceu com a dor e que só a necessidade nos faz fortes. Não consigo imaginar o tamanho do que ela sentiu com apenas DEZENOVE anos de idade, sem marido, sem mãe e com uma filha para criar...
Inicialmente fomos para a casa de sua melhor amiga e minha madrinha, pois mamãe só conseguia chorar e emagrecer. Passou dias na cama, mas tinha que cuidar de mim, daí em diante éramos apenas eu e ela no mundo, não tínhamos absolutamente mais ninguém. E mamãe sempre fez o que era necessário fazer. Algo como uma Scarlat O'hara que ao voltar para Tara e a encontrar saqueada e destruída ouve sua empregada perguntar "o que vai ser de nós?" e responde "Eu tenho Tara". E minha mãe tinha a mim. Não para confortá-la, mas para obrigar que ela se lançasse à luta. E foi o que ela fez.
Voltamos para a casa onde morávamos. Agora vazia de todos. Era uma casa de vila em Vigário Geral, bairro pobre do subúrbio, com um quarto, sala e cozinha, não tinha banheiro dentro de casa, o único que havia ficava no quintal e servia a mais três casa além da minha. Numa dessas casas, bem colada a minha, morava meu tio Betinho, sua esposa, tia Nininha e minha prima Rosemeri (que se livrou de se chamar Rosemeri Penha, em homenagem a Nsa. Sra. da Penha). Voltamos mas não havia o que comer, nem dinheiro. Minha avó já idosa, eu e minha mãe vivíamos do pequeno salário do meu pai, que após ter dado baixa no Exército, foi trabalhar como segurança de uma empresa, uma vez que tinha aprendido a atirar e essas outras coisas que se ensinavam no Exército. Mamãe conseguiu receber uns trocados dessa empresa, mas a pensão do INPS (acho que se chamava assim naquela época) iria demorar a sair. Tal qual uma Scarlat O'hara suburbana minha mãe nunca tinha trabalhado, nem fora de casa, nem em casa. Minha avó Maria superprotetora fazia praticamente tudo. Minha mãe nunca tinha me dado banho sozinha, não sabia cozinhar (e até hoje não cozinha bem), tinha medo de tudo, ouvia barulhos à noite em casa. Minha tia Nininha ajudou um bocado. Ensinou minha mãe a fazer algumas coisas básicas. Mas até minha mãe aprender eu sofri um bocado ! Estou viva por sorte.
Essa é a parte quase divertida da história. Mamãe conta que numa das primeiras vezes que foi me dar banho, me colocou na banheira e lembrou que não trouxera o sabonete. Claro que ela me deixou na banheira e foi buscá-lo. Quando voltou encontrou um bebê se debatendo na água, meio roxinho. Chamou minha tia chorando. Sobrevivi. A primeira sopinha que ela cozinhou para mim eu me negava terminantemente a comer. Era só ela colocar a colher em minha boca para eu chorar e cuspir tudo. Ela desistindo de me obrigar a comer, resolveu tomar a tal sopa. Seus olhos se encheram de lágrimas. A sopa era sal puro. Tinha colocado sal às colheradas na panela, sem lembrar de provar. Resolveu colocar um varal para secar minhas fraldas dentro de casa, na sala. Eu estava deitada no sofá. E bate martelo, e bate martelo. Até que o martelo caiu. A milímetros da minha cabeça. E se ela me deixasse engatinhando no quarto, colocando o grande urso laranja na porta do quarto ? eu morria de medo desse urso e tê-lo na porta era garantia que eu não sairia do quarto para a sala. Assim foi feito. Até que ela tivesse que correr para o quarto e com o cabo da vassoura me tirasse do fio do abajour de onde eu estava grudada levando um choque. Claro que teve a vez que fui parar no Hospital Getúlio Vargas por ter engolido uma "maria chiquinha" que usava no cabelo. Ela bem que tentou me fazer vomitar introduzindo o dedo na minha garganta, mas eu vomitara tudo, menos a "maria chiquinha". Só restava o hospital. Rx de cá, observação de lá. Nada. Um mistério que se desfez a voltarmos para casa e encontrar a "maria chiquinha" embaixo da cama. Cheguei a conclusão que eu queria muito viver.
Minha mãe conta que eu era uma menininha muito bonitinha, elogiada por todos. Várias pessoas foram procurar minha mãe e perguntar se ela não queria "me dar" já que estava com tantas dificuldades pessoais. Todos contam que a resposta de minha mãe sempre foi: "minha filha não é filhote de cachorro para ser dado não !". Nem que eu passe fome, a ela nunca faltará comida. Comida e educação. Diz se minha mãe não é a Scarlat O'hara ?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Primeiro contato com ela, a morte.

Lá na Bahia, nasceu meu pai. Uma família numerosa de muitos irmãos, tipicamente nordestina. Ele veio para o Rio de Janeiro aos 18 anos, queria seguir a carreira militar. Veio servir o Exército e pretendia fazer provas para seguir carreira. Mas ao que parece, 1968 não foi um ano muito fácil não. Ele serviu num quartel, onde nas fotos vi escrito um nome, "Inferno Verde", que ficava lá por São Cristovão. Não consigo vê-lo dando porrada em estudante que faz protesto. Mas eu sei tão pouco sobre ele que morreu em 1972, atropelado na Avenida Brasil, ao ir se encontrar com a amante (o santo da minha mãe é forte). Minha mãe não me contou muita coisa, sei que era botafoguense e vivia cantando "Alegria Alegria". É, acho que a carreira militar não seria a mais indicada para ele naquela época. Quando eu era criança gostava de ficar olhando as fotos onde ela aparece alto, forte, sorrindo com dentes perfeitos, pernas e braços musculosos e aqueles olhinhos meio apertados. Fotos dele no quartel, com a farda da PE, no casamento com minha mãe e no meu batizado. Meu pai era realmente muito bonito. Um dia ele saiu de casa dizendo que ia dar uma volta. Não voltou. Meus pais moravam com a minha avó Maria, numa casa ao lado dos meus tios maternos (tenho dois). Ficaram todos muito preocupados, principalmente minha avó a quem era muito apegado. Foram dois dias procurando pelos hospitais até encontrá-lo internado no Hospital da Ordem do Carmo com traumatismo craneano pelo atropelamento, do que veio a falecer. Cinco dias após o falecimento do meu pai, minha avó Maria foi encontrada morta, pela manhã, na cama onde dormia. Minha mãe descobriu que o marido a traia, ficou viúva e sem mãe, tudo num único golpe. Eu tive meu primeiro contato duplo com a morte e nem tinha ainda dois anos de idade.