segunda-feira, 23 de março de 2009

Para onde ir quando não se quer estar em lugar algum ?

Meu aniversário. Quase ninguém sabe disso. Não vejo vantagem alguma em fazer aniversário. Um ano mais próximo da morte, destino inexorável de nós todos.
E hoje invejo o destino dos mortos.
Sozinha, em outra cidade, trabalhando, sem ninguém, absolutamente ninguém ao meu lado.
Não queria bolo, não queria festa, não queria absolutamente nada além do abraço de minha mãe, do meu pai. Queria colo. Estou cansada de ter que ser tão forte, de ter que ser tão durona, de ter que ser tanta coisa.
Queria apenas poder errar sem culpa, queria poder sentar e olhar o mar sem ter que olhar também o relógio. Queria ir para algum lugar que eu nem sei onde fica.
Hoje, estou tão triste, de uma tristeza tão vazia, que seca a boca, que trava o peito.
Hoje a única vontade era encontrar uma bala perdida, encontrá-la bem no meio do peito. Mas como diz o poeta, não adianta morrer. A vida é uma ordem e eu me acostumei a seguir ordens. Justamente eu que sempre tive um espírito tão livre e inquieto.
"Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas dos teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue,e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação".
Carlos Drummond de Andrade

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