segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Pensando em você ...
"Para que tú entres,
a veces de tristeza, el corazón se me abre.
Como una puerta tímida,
para que tú entres, el corazón se me abre.
Pero tú no vienes,
no vuelas más sobre los campos.
En vano mi corazón
a la ventana de su dolor se asoma.
Pasas de largo,
como si el viento
soplase sólo para allá.
Pasa la mañana y no viene la tarde.
Y el corazón se me cierra,
como una mano sin nadie, el corazón se me cierra".
Manuel Scorza
Mamãe é carioca !
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
A verdade da Tropa - O livro e Novo Blog.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Ele - Parte I
Eu o encontrei por acaso, numa lista de debates sobre o relativismo, começamos a conversar, trocar e-mails, e logo estávamos nos falando ao telefone. No início foi difícil acreditar que ele era físico, com PhD em Yale, na net rola cada lorota, mas depois de nos falarmos e eu encontrar o curriculo lattes e várias referências bibliográficas dele, não tive mais dúvidas, o cara era uma sumidade, um dos maiores especialistas em sua área de pesquisa. Então, claro, bateu a insegurança. O que um cara com mais de 20 anos mais velho, que já viajou praticamente o mundo todo, falando vários idiomas fluentemente, que poderia ter as mulheres mais bonitas e interessantes quando quisesse, iria querer com uma estudante universitária, preocupadas com prosaicas provas e estágios, sem charme, sem graça ? O quê? Era impossível não olhar para ele como quem olha para um astro de Hollywood, sei lá, alguém totalmente impossível.
Mas o impossível aconteceu. Nos encontramos e tudo foi inesquecível. Cada segundo. Nunca pensei que pudesse pegar um carro e dirigir 10 horas seguidas, sozinha pela estrada. Foi uma das minhas primeiras descobertas, eu poderia dirigir sozinha Brasil a fora. Praticamente não parei durante a viagem, mapa na mão, o coração aos pulos dentro do peito e o pé pisando lá embaixo no acelerador. Quando eu cheguei ele estava num posto de gasolina na entrada da cidade. Desci do carro, não sei como pois minhas pernas tremiam muito. Ele me deu um dos sorrisos mais lindos que eu já vi, veio e me beijou na boca, simples assim. Fomos para sua casa, quer dizer, super casa, com um jardim enorme, e piscina, ele me apresentou a cada cantinho. O Zé era divorciado da esposa, e sua filha, da mesma idade que eu, morava com ele. Nos encontramos e ela me tratou super bem, estava saindo para viajar.
Não havia nada a ser dito. Não havia palavras que coubessem naquele encontro. Só nos olhamos, olhamos, sorrimos, sorrimos. Conversamos sem rumo até anoitecer. Fomos jantar, ele me mostrou um pouco da cidade e me deixou dirigir seu carro. Eu perguntei se podia correr com o carro dele, e ele respondeu que sim... nunca corri tanto, subia e descia ladeiras que eu não sabia onde iam dar, em alta velocidade. Ele apenas ria muito e dizia que não sabia quem era mais louca, eu ou ele. Jantamos num lugar lindo e ele me falava das figurinhas do mundo acadêmico, de gente que eu só ouvira falar nas revistas científicas, falava do John Maddox (editor da Nature) como se o cara fosse "íntimo", me falava de políticos e figuras que eu só conhecia dos jornais e de como eles eram. Me contou de suas viagens, tinha acabado de chegar da África do Sul onde tinha voado de balão. Até eu falei que me sentia tão pequenininha perto dele. E o que recebi foi uma descrição linda sobre mim mesma. Eu nunca tinha visto em mim as coisas que ele enumerou. Ele narrou fatos da minha vida e como ele os observava e o que queriam dizer e era como se eu olhasse a minha vida de uma outra forma. Depois dele contar a minha vida para mim, passei a ter orgulho "da minha história". Ele me disse que eu deveria ter orgulho da minha história pessoal e nunca mais esqueci isso.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
E por falar em Liberdade: Edith Stein.
(Texto de Elisângela Maria de Jesus e meus grifos)
A conversão de Edith Stein ao catolicismo não supõe renúncia à fenomenologia, quando em 1936, redige sua obra filosófica: Ser finito e Ser eterno, da cela de carmelita, recorda que sua pátria filosófica é a escola de Husserl.
Na busca constante de Edith em compreender o homem, situa em todas as suas obras o homem como ser livre. Na visão steiniana razão e liberdade são constitutivos da pessoa, assim a razão deverá agregar-se à liberdade. O homem nasce para ser livre, porém seguramente o que mais opõe resistência a liberdade, é a própria natureza humana tão complexa. Edith Stein afirma que a pessoa é livre diante de tudo, pois determina sua vida diante de si mesmo. Reconhecendo aqui sua afirmação, o principal determinante para ser livre é o defrontar com seu próprio interior, pois é no mais profundo que está a liberdade para ser. É do lugar mais inconstante, o eu, que o homem está mais próximo de se encontrar e tomar decisões que determinam a evolução do ser, onde as limitações e circunstâncias perdem o poder.
A liberdade para Edith Stein está no plano do auto-domínio e para essa liberdade acontecer o homem deve estar no seu “lugar”. Este lugar não supõe uma subjetividade infrutífera, mas situa-se no constante “devir” da existência humana. Em um momento de sua vida, exclama Edith: “Eis a verdade”, ao ler a autobiografia de Santa Teresa de Ávila, entre um fim de tarde e o raiar do dia seguinte e após, pediu o batismo na Igreja Católica, deixando após anos de inquietação o judaísmo, religião em que fora introduzida quando criança. Em 1933 entra para o Carmelo de Colônia onde viveu uma vida simples de carmelita, com todas as abnegações pertinentes à clausura. Mais tarde é transferida para Echt, na Holanda onde em 1942, a Gestapo invade o carmelo e leva Edith para Auschwitz, aqui revela a liberdade para Edith, quando em silêncio caminha para o holocausto, nenhuma expressão é proferida: resta o silêncio. Morre aos 09 de agosto, numa câmara de gás. Seu caminho constitui-se de escolhas que contribuem para uma apreciação sobre a liberdade do homem que pode ser compartilhada de forma simples e dramática ao mesmo tempo.
Em Edith Stein, não achamos respostas para o homem conseguir a liberdade, uma vez que estar livre é consentir estar. Não deriva do pensamento Steiniano a verdade plena do homem, mas a percepção do caminho, das escolhas, das decisões que são tomadas a partir do próprio homem diante de si mesmo. A resignação, o silêncio, pode ser ou não liberdade. A angústia da morte, neste caso o holocausto, permite ao silêncio, uma série de interpretações subjetivas a partir do nosso próprio conceito de liberdade.
E este conceito, nasce e morre a cada instante, pois somos senhores e escravos dos nossos atos, determinamos a vida diante de nós mesmos. Não cabe aqui concluir nada, pois o homem com toda sua limitação, não se opõe a gozar de liberdade, uma vez que esta é constitutiva de seu ser e legitimada pelo livre arbítrio.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Porque mudei a foto de abertura do blog ?
Mas observando melhor, tinha algo de doloroso, de abandono, de triste naquela foto.
Já a foto atual foi feita quando eu estava muito bem acompanhada numa praia deserta no interior da Bahia. Um mar enorme, de ondas tranquilas, areia branquinha e muito sol. Não pensei duas vezes em cair n'água, completamente nua. Ela conserva a sensação de liberdade, porém com mais calma, alegria, menos dor e solidão que a anterior.
Minha vida na Bahia - Parte I.
Não consigo, é impossível pensar nisso sem sentir a solidão infinita de minha mãe. Sem vê-la olhando para os lados, sem mãe, sem marido, sem emprego, sem chão. Se fechar os olhos consigo imaginá-la à noite, chorando, o coração apertado.
Na Bahia fomos morar na casa de minha avó. Lá moravam muitas outras pessoas. Meus tios e tias, e alguns primos. Era uma casa grande, muito simples e cheia de gente. Conheci minha bisavó. Uma senhora já bastante idosa, sempre deitadinha em sua cama onde nós lhe pediamos bênção. Conheci tantos outros tios e primos, pois a familia de meu pai é enorme. Conheci uma tia de papai que chamamos Litinha, ou simplesmente "mãe-tia" por ter cuidado de seus sobrinhos com se fosse mãe destes. Lembro vagamente de sua casa. Ficava à beira de um rio chamado "Rio Cachoeira" e atravessava a cidade de Itabuna. Tenho algumas fotos que tirei na margem desse Rio. Mamãe fala que minha prima Lana fazia xixi no chão e o xixi ficava por lá, até secar naturalmente. Certamente isso deve ter aterrorizado minha mãe que tem uma noção de cuidado com a casa muito forte.
Tenho poucas lembranças desse período. Ficamos por lá aproximadamente um ano. Mamãe não se acostumou a casa de minha avó baiana, uma casa cheia, confusa, sem espaço para nós, tão diferente da casa de minha avó italiana, sua mãe e sua maior referência, assim como ela é a minha.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Antíteses - Parte II
Porque eu sou a primeira e a última
Eu sou a venerada e a desprezada
Eu sou a prostituta e a santa
Eu sou a esposa e a virgem
Eu sou a mãe e a filha
Eu sou os braços de minha mãe
Eu sou a estéril, e numerosos são meus filhos
Eu sou a bem-casada e a solteira
Eu sou a que dá a luz e a que jamais procriou
Eu sou a esposa e o esposo
E foi meu homem quem me gerou em seu ventre
Eu sou a mãe do meu pai
Sou a irmã de meu marido
E ele é o meu filho rejeitado
Respeitem-me sempre
Porque eu sou a escandalosa e a discreta.
Antíteses - Parte I
A REVOLTA DOS DÂNDIS
(Engenheiros do Hawaii)
Entre um rosto e um retrato, o real e o abstrato
Entre a loucura e a lucidez,
Entre o uniforme e a nudez
Entre o fim do mundo e o fim do mês
Entre a verdade e o rock inglês
Entre os outros e vocês
Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão
Entre gritos e gemidos, entre mortos e feridos
(a mentira e a verdade, a solidão e a cidade)
Entre um copo e outro da mesma bebida
Entre tantos corpos com a mesma ferida
Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão
Entre americanos e soviéticos, gregos e troianos
Entra ano e sai ano, sempre os mesmos planos
Entre a minha boca e a tua, há tanto tempo, há tantos planos
Mas eu nunca sei pra onde vamos
Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão