quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ele - Parte I

Talvez eu possa dizer que a minha vida teve uma mudança em seu rumo quando encontrei o Zé Edu. Foi em 1998. Antes eu era apenas uma menina, e depois dele certamente eu consegui me ver como uma mulher. Ele tão rapidamente me mostrou coisas que eu desconhecia de mim, me estimulou a ter liberdade, auto-estima.
Eu o encontrei por acaso, numa lista de debates sobre o relativismo, começamos a conversar, trocar e-mails, e logo estávamos nos falando ao telefone. No início foi difícil acreditar que ele era físico, com PhD em Yale, na net rola cada lorota, mas depois de nos falarmos e eu encontrar o curriculo lattes e várias referências bibliográficas dele, não tive mais dúvidas, o cara era uma sumidade, um dos maiores especialistas em sua área de pesquisa. Então, claro, bateu a insegurança. O que um cara com mais de 20 anos mais velho, que já viajou praticamente o mundo todo, falando vários idiomas fluentemente, que poderia ter as mulheres mais bonitas e interessantes quando quisesse, iria querer com uma estudante universitária, preocupadas com prosaicas provas e estágios, sem charme, sem graça ? O quê? Era impossível não olhar para ele como quem olha para um astro de Hollywood, sei lá, alguém totalmente impossível.
Mas o impossível aconteceu. Nos encontramos e tudo foi inesquecível. Cada segundo. Nunca pensei que pudesse pegar um carro e dirigir 10 horas seguidas, sozinha pela estrada. Foi uma das minhas primeiras descobertas, eu poderia dirigir sozinha Brasil a fora. Praticamente não parei durante a viagem, mapa na mão, o coração aos pulos dentro do peito e o pé pisando lá embaixo no acelerador. Quando eu cheguei ele estava num posto de gasolina na entrada da cidade. Desci do carro, não sei como pois minhas pernas tremiam muito. Ele me deu um dos sorrisos mais lindos que eu já vi, veio e me beijou na boca, simples assim. Fomos para sua casa, quer dizer, super casa, com um jardim enorme, e piscina, ele me apresentou a cada cantinho. O Zé era divorciado da esposa, e sua filha, da mesma idade que eu, morava com ele. Nos encontramos e ela me tratou super bem, estava saindo para viajar.
Não havia nada a ser dito. Não havia palavras que coubessem naquele encontro. Só nos olhamos, olhamos, sorrimos, sorrimos. Conversamos sem rumo até anoitecer. Fomos jantar, ele me mostrou um pouco da cidade e me deixou dirigir seu carro. Eu perguntei se podia correr com o carro dele, e ele respondeu que sim... nunca corri tanto, subia e descia ladeiras que eu não sabia onde iam dar, em alta velocidade. Ele apenas ria muito e dizia que não sabia quem era mais louca, eu ou ele. Jantamos num lugar lindo e ele me falava das figurinhas do mundo acadêmico, de gente que eu só ouvira falar nas revistas científicas, falava do John Maddox (editor da Nature) como se o cara fosse "íntimo", me falava de políticos e figuras que eu só conhecia dos jornais e de como eles eram. Me contou de suas viagens, tinha acabado de chegar da África do Sul onde tinha voado de balão. Até eu falei que me sentia tão pequenininha perto dele. E o que recebi foi uma descrição linda sobre mim mesma. Eu nunca tinha visto em mim as coisas que ele enumerou. Ele narrou fatos da minha vida e como ele os observava e o que queriam dizer e era como se eu olhasse a minha vida de uma outra forma. Depois dele contar a minha vida para mim, passei a ter orgulho "da minha história". Ele me disse que eu deveria ter orgulho da minha história pessoal e nunca mais esqueci isso.

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