segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Antíteses - Parte II

"Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido."
(Gregório de Mattos Guerra)
Durante tanto tempo misturei meu medo extremo com uma audácia quase kamikase. Me lançando primeiro às feras, para depois ver as feridas que restavam em meu corpo. Passei a vida andando entre extremos. Tentando equilibrar as diversas faces de uma só pessoa. Tentaram me dizer que eram contradições quando na verdade eram antíteses. E foi com o estudo do Barroco que entendi que a antítese é formada por partes indissolúveis entre si. Uma coisa e seu contrário, unidas para formar por contradição um significado íntegro. Assim sou eu...
HINO À ÍSIS
(Séc. III/IV)

Porque eu sou a primeira e a última
Eu sou a venerada e a desprezada
Eu sou a prostituta e a santa
Eu sou a esposa e a virgem
Eu sou a mãe e a filha
Eu sou os braços de minha mãe
Eu sou a estéril, e numerosos são meus filhos
Eu sou a bem-casada e a solteira
Eu sou a que dá a luz e a que jamais procriou
Eu sou a esposa e o esposo
E foi meu homem quem me gerou em seu ventre
Eu sou a mãe do meu pai
Sou a irmã de meu marido
E ele é o meu filho rejeitado
Respeitem-me sempre
Porque eu sou a escandalosa e a discreta.

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