segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Mamãe é carioca !


"As jovens viúvas marcadas (...) não fazem cenas, vestem-se de negro, se encolhem, se conformam e se recolhem às suas novenas, serenas."

E depois de ficarmos quase um ano na casa de minha avó baiana, minha mãe não aguentou mais. Tudo tão diferente do que ela estava acostumada, mamãe, uma típica carioca. E outra agravante, mamãe nasceu determinada a ser feliz. Definitivamente, aos 20 anos de idade, ela não iria se comportar como uma viuva ateniense, sobretudo sabendo que o marido morreu atropelado quando ia para a casa da amante. Ah, eles não conheciam minha mãe ! Alguns de meus tios, sobretudo o hipócrita do tio Nando, recriminavam o fato dela insistir em viver com a alegria que lhe é característica, de sair, dançar, ir pular carnaval. E mamãe é osso duro de roer. Até posso imaginá-la dizendo ao meu tio: "olha meu filho, quem morreu foi o seu irmão, não fui eu não. Eu estou bem viva, tá vendo?!". Assim, somando a superlotação insalubre da casa, os hábitos cotidianos bastante diferentes, e o patrulhamento hipócrita do meu tio Nando, um cara de caráter no mínimo duvidoso, mamãe não aguentou. Assim que saiu, finalmente, a pensão de meu pai, ela juntou nossas poucas coisas e voltamos para o Rio. Eu tinha pouco mais de três anos.

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