sábado, 23 de maio de 2009

Essa palavra presa na garganta

Cálice

Composição: Chico Buarque e Gilberto Gil

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue!
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta ?
Mesmo calada a boca resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta.
De que me vale ser filho da santa ?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta.
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado.
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa...
De muito gorda a porca já não anda (Cálice!)
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil Pai, abrir a porta(Cálice!)
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade ?
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade...
Talvez o mundo não seja pequeno(Cálice!)
Nem seja a vida um fato consumado(Cálice!)
Quero inventar o meu próprio pecado(Cálice!)
Quero morrer do meu próprio veneno(Pai! Cálice!)
Quero perder de vez tua cabeça(Cálice!)
Minha cabeça perder teu juízo(Cálice!)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel(Cálice!)
Me embriagar até que alguém me esqueça(Cálice!)
Eu hoje só queria uma coisa, uma única coisa: Não existir e poder perceber que não seria preciso muito para ser esquecida.

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